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Por doutora Thereza Cavalcanti
Somos constituídos por trilhões de células. Divisões celulares ocorrem do primeiro ao último dia de nossas vidas. Apesar do rigoroso sistema intracelular de verificação e reparo de alterações, algumas mudanças escapam a esse controle: são as chamadas mutações.
Essas variantes podem ocorrer em qualquer célula ou estágio do desenvolvimento, ainda que algumas estejam mais propensas a mudar. As mutações podem ocorrer em células de um organismo já desenvolvido (somáticas) ou nas células que originarão ovócitos e espermatozoides (germinativas).
Se a alteração ocorrer precocemente no desenvolvimento embrionário, a maioria das células-filhas herdará essa mutação enquanto que, se a mudança ocorrer em estágios mais avançados do desenvolvimento, apenas uma parcela menor apresentará a mutação, coexistindo células com sequências diferentes de DNA (mosaicos).
Diferença entre mutação e evolução
As mutações não devem ser consideradas erros, mas eventos necessários para a evolução das espécies. As variantes ocorrem aleatoriamente, mas podem se tornar mais frequentes por conferirem alguma vantagem ao organismo, considerando a exposição a diferentes climas, dietas e patógenos.
São exemplos de variantes que conferiram vantagens a alguns grupos populacionais: o traço falsêmico (maior resistência à malária), a persistência da produção de lactase (alternativa alimentar de captação de cálcio e vitamina D) e a tolerância às altitudes.
Tipos de mutações
Os principais tipos de mutações são:
- SNPs: polimorfismos de nucleotídeo único (mutações pontuais), variações genéticas de único nucleotídeo (A, T, C, G).
- InDels: inserção/deleção de pares de bases em extensão inferior a um exon (habitualmente, considera-se < 50 pb).
- CNVs: variações no número de cópias de partes/conjuntos de genes ou do genoma inteiro. Entre quaisquer pessoas, existem mais de 1.000 seguimentos >500 pb diferentes em número de cópias, que podem abranger mais de 1 milhão de pares de bases.
Herança genética
Comparando o genoma de pais e filhos, um estudo nórdico relatou a ocorrência média de 4.933 mutações de novo de uma geração para a outra, sendo 64 em posições que alteram o produto codificado, ou seja, potencialmente nocivas. Destas, 55 ocorreram na fita de origem paterna, enquanto 14 na de origem materna. Estudos como esse nos permitiram concluir que:
- A idade paterna favorece o surgimento de mutações de ponto nos espermatozoides devido à espermatogênese ser um processo contínuo, com muita replicação do DNA. A taxa mutacional dos gametas é estimada em 25 mutações aos 20 anos e 65 aos 40 anos.
- A idade materna favorece a ocorrência de alterações cromossômicas por divisões celulares cromossomicamente assimétricas. A ovogênese se dá, predominantemente, no período pré-natal, com pouca replicação do DNA.
Em outras palavras: o tempo reprodutivo corre para ambos os sexos.
Embora o DNA das células do organismo seja semelhante, há diferença entre os genes sendo transcritos em cada tecido e estágio do desenvolvimento. A atividade de um gene pode ser influenciada pelo produto de outros genes e pelo ambiente.
Temos mecanismos muito eficientes de verificação e reparo do DNA. Ainda assim, acontecem mutações. Apenas a minoria das mutações está relacionada a doenças. Essa relação é estabelecida correlacionando variantes genômicas com dados clínicos e populacionais.
Referências bibliográficas
1. FIRTH, Helen V.; HURST, Jane A. Oxford Desk Reference: Clinical Genetics and Genomics. Oxford University Press, 2017.
2. GRIFFITHS, A. J. F. et al. Introduction to Genetic Analysis. 11th. 2015.
3. “Dogma central (DNA a RNA a proteína)”. Khan Academy, acessado em julho 2020, .